DEPOIS DO DISCURSO DO PAPA FRANCISCO
À CÚRIA ROMANA
25 DE DEZEMBRO DE 2014
Antigamente eu me fazia valer do
cânone 218 para fundamentar o meu direito, como professor, à liberdade de
pesquisa e divulgação das minhas conclusões querem agradassem quer
desagradassem.
Confesso, contudo, que nem o
coração da CNBB consegui tocar para efetuar as mudanças necessárias. Do D.
Eugênio Salles recebi uma repreensão porque quis mudar o texto litúrgico da
missa para evitar um cacófato, dos mais nojentos, que se encontra nas orações
de preparação das oferendas: ...”que agora (cagora) vos apresentamos” (primeiro
o pão, depois o vinho). Evita-se deslocando simplesmente o “agora” para o final:
...”que vos apresentamos agora”. Nada foi feito. Continua a mesma ignorância!
Outro texto que lutei para que
mudassem, e também não consegui, está no ritual dos casamentos entre um batizado e um não batizado. Diz
ali o “Rito Sacramental do Matrimônio” (pag. 64, Paulinas):
- Caros noivos, N. e N., ....”Já vos tendo consagrado pelo batismo
(apenas um), vai enriquecer e fortalecer-vos agora com o sacramento do
Matrimônio”... Ora, se um não é batizado, o casamento não será elevado a
sacramento (conf. Cân. 1055, 1 e 2), a não ser que o pagão se venha a batizar.
Um erro grosseiro deste calibre ainda não foi corrigido. Será que estão
esperando que o Papa Francisco faça outro discurso?
Após ter tecido as considerações,
já postadas neste Blog, um colega disse-me que elas só chegariam ao
conhecimento do Papa Francisco, que eu sei que quer o “debate” no Sínodo da
Família e não meros discursos que quem pouco conhece a vida familiar, se eu
vestir a capa do Cardeal Kasper.
Espero não precisar chegar a tanto.
O bem da família grita mais alto. As viúvas e viúvos “da praça de Maio” são aos
milhares clamando aos céus por justiça; os “velhos do Restelo”, de que fala
Camões nos Lusíadas, já foram sepultados na própria ignorância.
Há muito casamentos que não foram
abençoados por Deus... e Deus continua não querendo uni-los porque eles não oferecem
condições, ou um deles não quer. Há que
declará-los nulos.
E aí vem a incoerência de uns e o
escândalo de outros. Incoerência de quem exige que o casamento civil se
mantenha indissolúvel quando a Igreja o dissolveu, como acontece com a dispensa
concedida em casos de inconsumação do casamento canônico que consta também como
casamento civil. Os civilistas não nos entendem! Casamento civil e o casamento
canônico obedecem a competências diversas. O homem religioso não presta contas
somente à sua Igreja, também tem que prestar contas à sociedade civil. Não pode
ficar casado com uma no civil e com outra no religioso. O casamento civil, registrado,
existe. Não pode ser dissolvido por uma Dispensa Pontifícia nem anulado por uma
sentença de um Tribunal Eclesiástico. O estado de solteiro, que consta na
carteira de identidade, não é a igreja que determina ou dá fé.
E o escândalo? Eram casados na
igreja e agora não são mais. Escândalo de quê? A maioria dos escândalos é proveniente
da minha ignorância. Que conhecimento posso ter eu do que se passa na cabeça de
cada um ou entre quatro paredes? Eu me escandalizo (verbo reflexivo) por
imaginar o que, na maioria das vezes, não é o que eu penso. Há fiéis tão
devotos que chegam a pedir satisfação ao juiz; até ao confessor: se ele
absolveu ou não determinado penitente que, após a confissão foi comungar; há
também padres tão zelosos que antes da comunhão chegam a dar o seguinte aviso: “Está
no Código: quem estiver em pecado mortal não pode comungar”. O pessoal fica tão
assustado, se está ou não está, que a maioria nem vai comungar. Conclusão, a maioria
está em pecado mortal. Será que está mesmo? Uma afirmação dessas, momentos
antes da distribuição da comunhão, é perigosa. As mulheres casadas podem
aproveitar para confirmar o adultério do marido que passou a noite fora. Ou os
homens.
Um dos pecados mais perniciosos à
FAMÍLIA é a fofoca, muito bem apontada pelo Papa Francisco, que existe na Cúria
Romana, nas Cúrias Diocesanas, nas Igrejas... e que acaba com muita família
boa.
O Papa Francisco quer “debate”
... e de certeza não é de “cardeais” ... mas de quem mais entende de FAMILIA...
família de católicos latinos, de católicos orientais, famílias judias, famílias
islâmicas... a todos o Criador falou e a todos assiste como Pai.
Acaba aqui minha colaboração ao “debate”
no Sínodo das Famílias. Não vou vestir-me de “cardeal” para que os Cardeais debatam
estes assuntos, que eles nunca viveram em família, mas que são comuns nos
Tribunais Eclesiásticos espalhados pelo mundo. Falo deles “de palanque” porque
convivo com esses problemas há quase 40 anos (faltam dias) como juiz do
Tribunal Eclesiástico de uma das maiores cidades do mundo.
Se ninguém falar ... se nem as
pedras falarem... a INTERNET falará de cima dos telhados.
FIM
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