EXISTE SAÍDA?
(RESPOSTA AO PROFESSOR HÄRING)
INTRODUÇÃO
Estudei
teologia
moral nos idos anos de 1967-68 pelo manual A LEI DE CRISTO, do professor Bernhard
Häring, uma obra ímpar que deixou todos os estudantes de Teologia Moral
entusiasmados e ajudou alguns colegas a ganhar coragem para salvar seu povo da
lei que mata e elevá-los ao espírito da lei que vivifica.
Trinta e quatro anos depois, chega-me às mãos,
já após a sua morte, o seguinte lamento do meu magnífico professor:
A presente situação exige de mim como
professor emérito de teologia moral,
depois de 50 anos de ensino e ministério
pastoral, que diga a minha palavra de alento, a última talvez, de
simpatia para com os separados, mas também de simpatia para com os bispos
e quantos atuam em tarefas pastorais. Talvez essa palavra de
encorajamento e simpatia faça parte de minha preparação imediata para a
morte, com a firme confiança na promessa do Senhor: Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia1
Confesso que fiquei extremamente
sensibilizado e acordei de um sonho que durante os meus vinte e sete anos de
juiz do Tribunal Eclesiástico Regional do Rio de Janeiro, desde a sua criação
como Tribunal Regional (1975), embora com muitos e estranhos pesadelos
provocados propositalmente por outro ilustre professor e Vigário Judicial, o
Cônego Edgar Franca, que tantas vezes me repetia:
- Preocupa-me saber que muitos fiéis desconhecem a existência dos
Tribunais Eclesiásticos.
- Preocupa-me
mais ainda o despreparo dos Tribunais para os receberem, os ouvirem e lhes
fazerem justiça.
- Quantas vidas marginalizadas, sofridas ou mortas porque não Ihes abrimos as portas da
justiça ou o fizemos tarde demais.
Trabalhei arduamente ao lado do Cônego
Edgar Franca e de outros doutos Vigários Judiciais, como Mons. José Maria
Tapajós, Pe. Mário Magaldi, Côn. Manuel Tenório, Mons. Crescenti, Pe. José
Guimarães, Pe. Barra, Pe. Luís Madero e D. João Corso, mas minha preocupação
fundamental era dinamizar a justiça através da informatização e automatização do
Tribunal, pois estava, e continuo convencido, que justiça demorada é só meia
justiça.
Agora vem o professor Häring renovar minha
velha preocupação chorando à minha porta por tantos e tantos amigos, iguais a
tantos outros amigos meus, que sofrem e são pessoas maravilhosas, apenas
erraram na escolha:
São
pessoas iguais a nós, que sofreram mais do que nós, e
que certamente nos superam no vigor da sua fé, na capacidade
de resistência à dor, e no amor a uma Igreja que, por vezes,
não parece compreendê-los.3
Mas
o que mais mexeu
com a minha sensibilidade foi o desafio que ele me fez, e a todos os
canonistas, de modo especial aos Bispos Canonistas, de mostrar sabedoria e o
verdadeiro rosto:
Diante
do número cada vez maior de separações matrimoniais e do sofrimento
inexprimível dos que passam por
esta situação, a Igreja é chamada
a mostrar a sua sabedoria e o seu verdadeiro rosto.
4
Sim,
o desafio foi-me feito de modo direto porque a minha Igreja não é feita de
corações de pedra, mas de homens de coração de carne. E eu sou um deles.
1- HÃRING, BERNHARD, Existe Saída? - Para uma Pastoral dos Divorciados, pág. 12. Edições Loyola, 2'.edição, São Paulo, Brasil 1995
2. Conf. VASCONCELOS, ABÍLIO, Por que casou? Casou
por quê? pág. 3. Livraria Nossa Senhora da Paz, Rio de Janeiro, Brasil
3. HÄRING, BERNHARD, Existe Saída? - Para
uma Pastoral dos Divorciados, pág. 11. Edições Loyola, 2'. edição, São
Paulo, Brasil, 1995.
4. HÁRING, BERNHARD, Existe Saída? - Para
uma Pastoral dos Divorciados, pág. 10. Edições Loyola, 2'. edição, São
Paulo, Brasil, 1995.